Aos 15 anos, Ana Cristina ainda não se sente à vontade com entrevistas. As palavras se perdem em meio ao jeitão tímido de quem não se acostumou ao posto de grande promessa do vôlei brasileiro. Tudo muda, porém, quando ela entra em quadra.
– Quando eu estou dentro de quadra eu tento esquecer tudo que está do lado de fora. Eu foco mais no momento, em me divertir, fazer o que eu gosto. E dar o meu máximo sempre. Eu tento não sentir muita pressão, tento manter o equilíbrio entre me concentrar, me divertir, mas não me colocar pressão. E dar o meu melhor sempre.
Especificamente no ataque, eu acho que me desafio. Eu gosto muito. Eu só vou e dou na bola, como dizem por aí (risos).
A tática tem dado certo. Nos últimos dois anos, Ana Cristina explodiu como a principal revelação das quadras do país. Filha da ex-ponteira Cecília Menezes, a Ciça, campeã mundial sub-20 na base e com passagem pela seleção adulta e por clubes como Flamengo e Minas, a jovem foi descoberta em uma peneira em São Caetano. Com 1,92m, se alinhou à perfeição com a procura da CBV por jogadoras mais altas. E impressionou.
– Geneticamente, eu sou abençoada por conta da altura, me envergadura, até mesmo pelos meus pais terem sido atletas. Deixa pequena, com a minha mãe em quadra, ela me ajudou. Hoje, eu acho que sou mais coordenada por causa disso. Eu acho que o melhor fundamento é o ataque. Mas eu gostaria e vou treinar para que eu possa conseguir ser boa em tudo, evoluir em todos os fundamentos – disse a jogadora, que defende as categorias de base do Pinheiros.
No ano passado, Ana Cristina, mesmo aos 14 anos, foi convocada para a seleção sub-18. Em quadra, impressiona pela estatura e pela força no ataque. Costuma alternar entre a saída de rede e a ponta, sempre com um instinto natural no ataque. Atualmente, a jogadora defende as categorias de base do Pinheiros. Ao lado dos pais, ainda define como serão seus próximos passos. Há, inclusive, a chance de já disputar seus primeiros jogos como profissional na próxima Superliga.
No início do ano, foi convocada para o Mundial Sub-20, mesmo sendo bem mais nova que as companheiras. O Brasil foi eliminado ainda na segunda fase, mas Ana Cristina deixou a competição no México como um dos destaques do time. Em setembro, já pela equipe Sub-18, foi eleita a melhor ponteira do Mundial, no Egito. Ali, se confirmou como aposta para um futuro próximo.
– Quando eu fui convocada para o Mundial Sub-20, meus pais não queriam muito por conta da idade. A diferença de idade minha e das meninas era muito alta. E o jogo, completamente diferente. Não sabiam se eu ia me adaptar muito bem. Mas o técnico, o Ayrton Cabral, conversou com eles. Meus pais acabaram me deixando ir e, de fato, consegui me adaptar com a ajuda das outras meninas e da comissão técnica. Consegui muito bem no Mundial Sub-20. Na Sub-18 foi uma continuidade da Sub-20. Eu acho que eu fui com um pouco mais confiança por ser mais a minha categoria. Consegui evoluir um pouco mais com as meninas.
Os pais, claro, têm grande influência no caminho traçado por Ana Cristina. A jovem também é filha de Alex Souza, ex-jogador de basquete, com passagens por Flamengo e São Caetano. São eles que acompanham de perto e cheios de orgulho os passos da pupila.
– É uma emoção ímpar, eu não consigo explicar o que eu sinto ao vê-la dentro de quadra jogando. Vou confessar que prefiro jogar do que vê-la jogando. Porque o coração vai a 1000 por hora, é muito nervosismo. Isso tem me dado muito orgulho, me deixa muito feliz. Mesmo com essa timidez toda, ela consegue ser aguerrida na quadra. Ela vibra, é determinada, sabe muito bem aonde quer chegar. Isso, para um atleta, é maravilhoso. E tem humildade, sabe que ela tem que aprender muita coisa – disse Ciça.
fonte: Globo.com